artigo do Diário de Notícias
A favela da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, é já dada como certa pela imprensa brasileira como a escolhida para receber a visita do Presidente norte-americano, no próximo fim-de-semana, embora não haja ainda confirmação oficial.
Embora não tenha sido confirmada pela representação diplomática norte-americana, os meios de comunicação social brasileiros dão como certa a decisão e explicam a escolha da comunidade por razões de segurança. De acordo com os jornais locais, os serviços secretos norte-americanos terão considerado aquele bairro mais fácil de vigiar, por ser o único plano entre as outras comunidades sugeridas. As outras favelas sugeridas foram o morro Santa Marta, em Botafogo, e a Babilônia, no Leme, ambas localizadas na zona sul da cidade, porém em encostas bastante íngremes, de difícil circulação e acesso, especialmente pelo grande número de ruelas e becos sem saída.
Há, no entanto, uma relação directa entre a Cidade de Deus e os EUA, já que o bairro foi construído com dinheiro norte-americano, disponibilizado durante o governo John Kennedy, na década de 1960, num projecto que fazia parte do programa Aliança para o Progresso. Voltado para o desenvolvimento económico dos países da América Latina, o Aliança para o Progresso foi uma iniciativa lançada por Kennedy num momento de guerra fria e de pós Revolução Cubana (1959), quando os EUA começaram a temer pela segurança do continente. Assim como as comunidades Vila Kennedy e Vila Aliança, a Cidade de Deus foi concebida como um projeto habitacional para acolher moradores transferidos de 23 favelas da cidade durante o governo Carlos Lacerda no Estado do Rio (1965-1967).
Em poucos anos, porém, o bairro sofreu um enorme crescimento populacional, expandindo-se além do previsto, sem infraestruturas adequadas e passando a conviver com violência e aumento do tráfico de droga nas décadas seguintes. De acordo com informações da prefeitura, a Cidade de Deus ocupa hoje uma área de 135.392,02 metros quadrados, com uma população estimada em 45 mil habitantes. Imortalizada pelo filme do mesmo nome, produzido em 2002 pelo realizador brasileiro Fernando Meirelles, que rendeu quatro nomeações para os Óscares, o cenário actual na comunidade é bem diferente do retratado no grande ecrã. A comunidade foi a segunda a ser ocupada por uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), em Fevereiro de 2009, e conta hoje com um efectivo de 326 polícias que ficam permanentemente no bairro, garantindo a segurança da população.
"Para nós foi maravilhoso. Antes esses malucos (os traficantes) começavam baile funk na quinta-feira e só terminava no domingo. Era uma situação horrorosa, com muito barulho, gente fazendo sexo na rua, às vezes tinha tiroteio", conta Carlos Ivanov de Lima, 46 anos, que vive desde os três naquela favela. Ivanov de Lima, que trabalha actualmente como auxiliar na Associação dos Moradores da Cidade de Deus, conta que desde que o programa de segurança começou há abundância de oferta de trabalho. "A toda a hora há gente a ligar para cá procurando pessoas, oferecendo vagas. Tanto que já nem temos mais gente para indicar, estão sobrando vagas", refere. Números do Instituto de Segurança Pública (ISP) confirmam a eficácia do projecto, mostrando que no espaço de um ano o índice de homicídios caiu mais de 80 por cento e o de roubos cerca de 70 por cento.
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